Com o crescimento das plataformas como Airbnb, Booking e outras, a locação por curta temporada — ou “short stay” — se tornou uma prática cada vez mais comum nos condomínios brasileiros. No entanto, essa tendência vem acompanhada de controvérsias jurídicas, dúvidas entre moradores e a necessidade de regulamentação clara.

Entenda o que está em jogo, o que já foi decidido pelo STJ, e como os condomínios podem lidar com essa modalidade de locação de forma segura.


O Que É a Locação “Short Stay”?

A locação short stay é caracterizada por estadias de curta duração — geralmente inferiores a 30 dias — por meio de plataformas digitais. Embora parecida com a locação por temporada prevista na Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91), o short stay muitas vezes se assemelha mais a um serviço de hospedagem.


O Que Diz a Lei e o STJ

Em 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou diferentes casos sobre locações de curta duração em condomínios residenciais. O entendimento predominante é:

  • A locação short stay configura um contrato atípico de hospedagem, distinto da locação por temporada.
  • A convenção condominial pode proibir esse tipo de locação, se houver cláusula expressa nesse sentido.
  • Onde não houver proibição explícita, o condomínio pode permitir o uso, desde que respeitadas regras internas.

Esses julgamentos ainda não têm efeito vinculante, ou seja, os tribunais inferiores não são obrigados a seguir essa jurisprudência. Porém, servem como importante referência jurídica para decisões em assembleias.


Como o Condomínio Pode Regularizar

Diante da instabilidade jurídica, a melhor forma de agir é preventivamente: regulamentar a prática na convenção condominial e no regimento interno. Veja como fazer isso:

1. Proibir ou Permitir? Decida em Assembleia

O primeiro passo é definir, por maioria qualificada, se a locação por curta temporada será permitida. Caso sim, é fundamental estabelecer condições específicas.

2. Cláusulas Sugeridas

A convenção pode incluir regras como:

  • Proibição total de hospedagem atípica, salvo aprovação em assembleia com quórum qualificado.
  • Autorização condicionada a prazos mínimos de estadia, limite de hóspedes por unidade e identificação prévia dos locatários.
  • Responsabilidade objetiva do proprietário por danos causados por hóspedes.

3. Termo de Responsabilidade

O condomínio pode exigir que o locador assine um documento assumindo obrigações legais e regras internas, garantindo a preservação da ordem e segurança.


Aspectos Relevantes para Preservar o Caráter Residencial

Se a locação short stay for autorizada, é essencial disciplinar:

  • Segurança e acesso: controle de entrada de hóspedes e cadastro antecipado.
  • Limite de ocupação: número máximo de pessoas por unidade.
  • Sossego: regras claras sobre ruídos, horários e uso das áreas comuns.
  • Sanções: aplicação de multas e, em caso de reincidência, medidas restritivas adicionais.

Boas Práticas em Assembleias

Para tratar do assunto de forma técnica e segura, recomenda-se:

  • Realizar estudo de impacto sobre segurança, rotatividade, convivência e custo operacional.
  • Contar com a presença de consultores jurídicos e síndicos profissionais para orientar decisões.
  • Votar propostas claras, com quórum qualificado e registro formal em ata.

Conclusão: Segurança Jurídica e Convivência em Equilíbrio

Enquanto não houver uma decisão definitiva do STJ sobre o tema, o melhor caminho para síndicos e moradores é a prevenção. Revisar a convenção condominial e estabelecer regras específicas para locações por curta temporada garante mais segurança jurídica e evita conflitos.

Condomínios bem administrados se antecipam aos desafios legais e transformam a convivência em uma experiência mais tranquila, segura e valorizada.

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